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A forma “pouco artística” com a qual os Jogos são transmitidos na televisão

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  • por em 1 de agosto de 2024
Assistir às Olimpíadas na TV, em muitos momentos, me remete ao personagem de Owen Wilson no brilhante Meia-Noite em Paris, do gênio Woody Allen; me sinto fora do meu tempo...

Assistir às Olimpíadas na TV, em muitos momentos, me remete ao personagem de Owen Wilson no brilhante "Meia-Noite em Paris", do gênio Woody Allen; me sinto fora do meu tempo... "I’m Outta Time", cantaria lindamente Liam Gallagher... Foto: Divulgação

A forma com a qual as Olimpíadas vêm sendo transmitidas pela TV na maior parte do tempo, confesso, não me agrada. Talvez o problema seja meu. Talvez, como o personagem de Owen Wilson criado por Woody Allen em “Meia-Noite em Paris”, tenha nascido fora do tempo.

Era da informação. “Jornalismo” contemporâneo. Luta por atenção com tudo. Redes sociais em tudo. Esporte como entretenimento de massa dentro desse contexto, em que você precisa ser martelado por algo novo o tempo todo.

Tudo bem que nos Jogos a quantidade de coisas advindas ao mesmo tempo é basicamente infinita. Sentir-se um tanto overwhelmed e fenômenos como o “fear of missing out” são basicamente inevitáveis. Mas sei lá…

No esporte, como na vida, na arte, a beleza não está, normalmente, e em sua plenitude, no resultado, no que aconteceu. Por isso não ligo tanto para spoilers. A verdadeira viagem estética passa pelo experenciar completo, pelo fruir profundo e se dando tempo para sentir, entrar, se envolver com uma obra. E um jogo deve ser visto como tal.

Ansioso para ver uma disputa, me incomoda que ela seja interrompida o tempo todo para que trechos de outras sejam mostrados. A multiplicidade de canais e recursos como o da gravação estão aí para isso.

Para genuinamente entender um embate, necessário se faz verdadeiramente viver e compreender todas suas facetas. Tática, oscilações psicológicas, altos e baixos de todos os tipos, ocasos e explosões físicas… Cada ponto importa, cada minuto conta na construção de um duelo. E ficar o tempo todo perdendo, ou simplesmente tendo sua atenção tirada dele na íntegra para a entrada, entre aspas, rápida, do trecho final de uma outra modalidade, atrapalha o fruir que gera a sensação, no fim, de que realmente se assistiu algo. “I’m older than I wish to be“, diria Noel Gallagher.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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