Composição sublime, capa perfeita: se o som nos remete ao melhor da música brasileira dos anos 70, ao auge da Cool Britannia, a identidade visual nos brinda com a mais bela das nostalgias possíveis para os amantes do futebol - somos transportados para as incomparáveis capas da Revista Placar dos anos 70, quando a publicação teve, em seus quadros, por exemplo, o gênio Juca Kfouri. Arte: Matheus Nerys
Cruzeirense apaixonado, um dos mais talentosos músicos e compositores da sua geração em Minas Gerais, um dos mais completos artistas contemporâneos do mercado brasileiro, cantor tão versátil quanto perfeito, letrista intelectualizado e multifacetado, figura humana das mais queridas do universo indie, o gênio – e aqui não vai nenhum superlativo inadequado; estou sendo totalmente literal – Luís Couto, hoje radicado na Suécia – que saudade! –, divide suas madrugadas entre criações sublimes e o acompanhamento ferrenho dos jogos da Raposa. E, desta vez, elevou o ofício das canções que possuem o esporte bretão como pano de fundo para outro patamar, um nível peculiar de sofisticação – e daquele jeito típico seu, integralmente idiossincrático e vanguardista.
Desde a última sexta-feira já se encontra nas principais plataformas de streaming a maravilhosa “Toca”, faixa escrita por esse craque sobre o qual falamos, a respeito de outro sujeito e profissional especial: Matheus Pereira, o camisa 10 cinco estrelas.
Luís é integrante de duas das melhores bandas dos últimos tempos. E o mais interessante: ambas são do nosso estado e bem diferentes, o que denota sua rica paleta de influências, sua originalidade digna de completa admiração.
A Devise bebe na fonte do Oasis, do Stone Roses, do Happy Mondays, do Britpop, e da vertente de Madchester, do rock alternativo em geral; do melhor da tradição brasileira, do clube da esquina, do Skank. Já o Churrus, se inspira, por exemplo, nas mais finas referências americanas possíveis: Wilco, Sonic Youth, Pavement, Guided By Voices; nos escoceses do Teenage Fanclub. Tudo, claro, sempre, com toques bastante pessoais.
Em “Toca”, som que a China Azul deveria abraçar para ontem, Luís exala um requinte que, conforme Wittgenstein e Schopenhauer concordariam, prova-se difícil de colocar em palavras, de tão intangível, inefável.
Os vocábulos, milimetricamente escolhidos para dar um belo sentido para o todo, versam com sensibilidade acerca das dificuldades que o personagem homenageado na obra teve com a saúde mental, da beleza de seu jogo, do seu elo inquebrantável com os celestes, do fato de, em Belo Horizonte, ter reencontrado a alegria de viver, a paixão por desfilar sua magia nos gramados.
A sonoridade do trabalho em tela, por sua vez, remete às obras-primas de Jorge Bem Jor, de Milton Nascimento – algumas delas, tocando também na temática do ludopédio –, de Marcos Valle, de outros mestres da década de 70 tupiniquim, e não deixa de lado, em sua levada, sobretudo, uma aura da fina flor da cena britânica dos anos 90 – The Verve, Richard Ashcroft, Pulp, e os próprios irmãos Gallagher vêm à mente.
De quebra, o esforço em voga, de modo esperto, sagaz, e riquíssimo, saúda também o lendário, o espetacular comunicador, e ídolo das multidões azuis, Alberto Rodrigues – de modo que nos transporta para a speaking voice de John Lennon em I’m Outta Time, um dos momentos mais bonitos de Liam com a caneta e um violão nas mãos –, conhecido, óbvio, qual “o mais vibrante”, evocando um trecho de uma de suas inesquecíveis narrações – após longeva e histórica trajetória na iconoclasta, na mágica Itatiaia, esse emblema do nosso jornalismo segue dando show de qualidade e batendo recordes de audiência na Internet por meio da TV on-line do brilhante Samuel Venâncio, maior referência, já há longo período, quando pensamos em notícias sobre o gigante que costuma encher o Mineirão.
A capa do single revela-se um caso à parte – fora produzida com esmero por Matheus Nerys –, e revela-se novo resultado de excelência artística e conhecimento em torno da modalidade mais popular do planeta – somos levados, imediatamente, às legendárias capas do auge da revista placar.
Enfim… Para todo o torcedor da trupe de Fernando Diniz; para cada amante do Beautiful Game, e, óbvio ululante, para aqueles com os ouvidos curiosos, antenados, apurados, e atentos, imperdível, repito: “Toca”, de Luís Couto.
Ah… E aproveite para revisitar o catálogo dos mencionados grupos do nosso sueco honorário e sacar os novos esforços solos dessa mente brilhante do nosso cancioneiro.
Virou moda, entre parte da torcida e da imprensa, dizer, nesta reta final do ano,…
O futebol pode ter parado no Brasil no último final de semana – com exceção…
O Brasileirão pode ser decidido na rodada de hoje, que começa daqui a pouco, às…